O esgotamento de uma ilha
Por Katia Marchese
Ilhéus
a dança
das asas de sal
move-se ao sol dos rochedos.
a névoa, no vão das rochas
cala os mugidos
acima do cume.
a força caprina salta a serpente,
a unha desmancha
um céu de meadas.
o vento alísio
desenha a sucessão de enganos
e refaz os moinhos da existência.
O dizer das coisas que acontecem na fotografia
aqui, mosquitos
rondam mariscos abertos,
a flor de sal derrete as flores do abricó,
a ventania move a areia,
alguns lugares desaparecem.
aqui, um leão marinho
morreu de isquemia,
as garças devoram os peixes
que ninguém quer levar,
não há cemitérios.
aqui, a ponta da praia
se curva ao estuário,
todos os dias dragam
o escuro canal das águas,
e não sabemos para onde vai a areia.
aqui, o emissário submarino
ergue a serpente
na gigante onda suspensa,
enquanto o esgoto subterrâneo
corre quatro quilômetros e jorra mar afora.
Katia Marchese é formada na Escola de Escritores do Clipe - Casa das Rosas - Museu Haroldo de Campos de Poesia e Literatura SP. Participa do Coletivo O Ateliê de Poesia. Já escreveu para diversas revistas literárias. Esses poemas fazem parte do livro "O Esgotamento de um Ilha".