Phoesydra
- URRO

- 25 de nov.
- 3 min de leitura
Entropia
Por Gabriela Guinatti
nota de esclarecimento
não busquem entender qual foi a massa deglutida pela poeta que vos fala.
não há sentido ou motivos para tal, sendo a implosão: i n e v i t á v e l.
no fim do mundo, as mães desmamam.
os pais serram seus próprios falos, sem dó.
as árvores tombam e sentem alívio.
não será colorido o apocalipse ao menos que agendasse seu início para fevereiro ou algo assim:
engoliríamos o glitter que enfeita as pálpebras carnavalescas, e em troca, receberíamos apelidos cabeludos impressos em lambe-lambes espalhados pela augusta. eis o drama: existir velha entre peter pans.
por fim e início, peço barulho
e
caos.
não sentem suas nádegas em canto algum para ler o que se seguirá aqui:
como sempre: isso é armadilha para pensarmos que há tempo ou saída mas
mas não há.
não se engane.
o fim será regado a calor extremo e pernilongos
e suados e coçando,
sentiremos inveja dos dinossauros.
[brasil, verão de 2024]
clínico e geral
sofro de tensão apocalíptica
insônias constantes
febres em julho
dores nos juntos
hipertensão herbal.
dizAlexia comunicacional
pré-eclipses neurais
ruídos insistentes
alergia a detergentes
- e outras cositas más -
sofro de melancolia profunda
medo de cair a minha bunda
resistência ao porvir.
adiantei sua voz
num ato arriscado
ouvindo
- sinto saudade
no 2,0x !
bandaid moderno
conversa arrancada
velocidade duplicada
vida desgraçada
a de quem gosta de escutar.
poli o vidro traseiro
desta nave sem roteiro
poeira
sem rastro.
|comem ratos e homens na bandeja esquecida
com restos de bitcoins|
e disso, nada me assusta.
nasci treinada para o fim do mundo
como quem sabe o que não viverá.
o camundongo feliz
a esteira
redutora de caminhos
castradora de jornadas
determina
velocidades
gasto calórico
nº de passos.
é reta a linha.
e sem curva
ou
pedra,
penso em drummond
rezando por um tropeço:
pobres coitadas das poetas de agora
lendo em kindles
textos exemplares
de mitos consagrados
pelo instamundo.
é preciso entender de marketing
selfcare
coaching & mentoring.
putos.
acabaram os suplementos
peidam desmotivados
creatina e café.
shots de limão e rivotril
e a noite,
meto-lhe um sugador
orgasmos previstos
no google avisos,
terapia amanhã às 9h00.
pachorra ou acabaram meus incensos, e agora?
se jesus não fosse homem,
não existiria o natal.
mas, se houvesse
seria algo como forca, a árvore:
o absurdo nascimento
a virgem mal cuidada
o partido comunista
o perigo em que colocaste todos!
inconsequente ato da multiplicação
vivia às custas da mãe, aos 33.
veja se pode, ela.
repetiu eva
sua culpa,
baderneira de merda.
se jesus não fosse homem
seu corpo não seria celebrado
seria violado em praça pública
dado com exemplo
da militância a não seguir.
mas acontece que o disseram homem
e hoje
cristãos ou não
pagamos preços absurdos por pequenos panetones.
que vida sacra!

Gabriela Guinatti é escritora, dramaturga, diretora teatral, gestora e produtora cultural. Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, está em curso com a especialização em Produção Cultural e Políticas Culturais pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro. Atua como Agente Territorial de Cultura pelo Programa Nacional dos Comitês de Cultura, em parceria com os Institutos Federais e com o Ministério da Cultura. É autora dos livros “A Ostra”e “PAI”, que teve seu lançamento na Bienal do Livro de SP 2024. É idealizadora e diretora geral da MOLI: Mostra Literária de Campinas. Foi finalista no Festival de
Poesia de Lisboa e Menção Honrosa no Prêmio Paulo Setúbal.




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