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Prelo

  • Foto do escritor: URRO
    URRO
  • 13 de ago.
  • 2 min de leitura

A canção do entupimento e outros poemas (de amor ciclope pessoas sonho galinha utopia casa etc)

Por Ana Cláudia Romano Ribeiro


o velho

é menino para

emborcar sopas cansadas antes de descer o sarrafo nas cortinas, sozinho em casa

um boi, um burro, um bode a olharem pela janela montados por dois teofrastos e uma silva

correr a cidade de ponta a ponta amarrando edifícios e bocas, motivos e encomendas, deixando um rastro de língua lubrificada e “de onde vens tu”?

dizer péra, porta e panelas, “Odre!”, “Machado!”, enquanto coça cotovelos

pau para toda colher, cantarolam juntos

não saía, não saiote

criava pássaros com farinha e palha

sepultou-te ferradura

mergulha o jarro que te subo a penha

 

****

 

vestiu-se de bolsos

cor de pernas que vão sozinhas ao entardecer

soando profusão, soando águas de lava, soando sol

um gosto de sol e cheiro de tesouro da juventude

enciclopédia macia de afundar sempre-vivas

 

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A canção do entupimento e outros poemas (de amor ciclope pessoas sonho galinha utopia casa etc), de Ana Cláudia Romano Ribeiro, publicado pela editora Ofícios Terrestres em 2025, é um livro de poemas perpassados pelos temas do corpo e da linguagem, do cotidiano e da abstração. Os poemas tematizam a escrita, a escuta, delineiam personagens e modos de lidar com o incompreensível.


Na primeira parte, entremeada por sonhos, temos muitas personagens: o velho, um senhor, miss Botelho, ele, um jovem, Christine de Pizan, uma velha, Descartes, uma galinha, ela, cachorros, elas, Margaret More, Billy Possibility, Hera, Herão, três irmãs, Antsonia Trepóvna, Minotauro, uma senhora, um ciclope, Rodrigo, entre outras. A segunda seção, “Pausa para cantar”, traz duas traduções de canções do universo pop (Eleanor Rigby, dos Beatles, e Tree little birds/Três passarinhos, de Bob Marley).


A terceira seção, também ela uma pausa (“Menopausa”), traz poemas cujo centro é a história da mulher. A quarta seção é povoada por personagens não nomeadas que vivem histórias de amor, de descompasso e de separação. Um último poema fecha o livro, condensando temas que foram tratados nos poemas anteriores: corpo, adequação, feminismo, música, imaginação e palavra poética.

  


Ana Cláudia Romano Ribeiro é poeta e professora no Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo. Vive na chácara Hipácia, numa zona semi-rural de Barão Geraldo, onde se dedica à pesquisa e à criação transdisciplinar, atualmente focada no desenho e na escrita. Publicou livros de poemas e faz as tirinhas A vida de Deise, com Deise Abreu Pacheco, que podem ser lidas online e em papel. Fez mestrado e doutorado em Teoria e História Literária na Unicamp, onde participa de um grupo de teatro bilíngue Die Deutschspieler. Graduou-se em Letras (UFJF) e em Etnomusicologia (Nanterre – Paris X) e estuda dança (técnica Klauss Vianna).

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