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Palimpsesto

  • Foto do escritor: URRO
    URRO
  • 15 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de ago. de 2024

O desenho e a cidade

Por André Lopes 


“O que vocês estão fazendo?”, me perguntou um homem que andava pela calçada quando me viu sentado no meio fio desenhando em meu bloquinho, a lápis e caneta nanquim, a Paróquia São Benedito, em frente ao Monumento à Mãe Preta no centro de Campinas. Curioso ao ver eu e mais um grupo de cerca de dez pessoas observando e desenhando, ele não hesitou em questionar e eu expliquei: “somos um grupo de desenhistas urbanos.”


O questionamento daquele homem não é incomum e tampouco minha resposta a ele, mas sempre penso que eu poderia dizer mais. Reduzir o Urban Sketchers Campinas a um grupo de desenhistas é tornar simplório seu significado e sua importância. Inclusive, o termo “desenhistas” causa automaticamente uma repulsa em qualquer pessoa que, antes curiosa e interessada, passa a pensar que aquilo não é pra ela. Mas praticar o urban sketching (ou “desenho urbano”) é, antes de tudo, um exercício de observação e de utilização do espaço público.


Desenho de André Lopes

 

Parar, observar e desenhar é estar em uma relação profunda de intimidade com a cidade. É uma forma de se apropriar de um espaço público e, portanto, diverso. Enquanto faço um desenho de 40 minutos ou uma hora em uma praça, um parque ou uma rua, muitas coisas posso ver ao meu redor: o contraste entre arquiteturas novas e antigas, o formato único de uma árvore, o entra e sai de pessoas de um prédio, o movimento dentro de um bar, crianças brincando, um casal passeando com o cachorro, o cotidiano acontecendo de forma espontânea. Mas desenhar a cidade também pode ser uma forma de denúncia ao escancarar o descaso do poder público com o patrimônio histórico, com a adequada manutenção dos parques ou com a crescente quantidade de pessoas em situação de rua.

 


Desenho de Marcos Gabriel Barbosa Diaz


No movimento Urban Sketchers, o desenho não se justifica apenas pelo próprio desenho e ter isso em mente possibilita alcançar espaços importantes: com o grupo Urban Sketchers Campinas, realizamos oficinas no Colégio Culto à Ciência e no Sesc Campinas, fizemos um encontro no Centro Cultural Maloca e no espaço cultural Casa do Pavão, organizamos uma visita guiada na Floresta Nacional de Ipanema, montamos exposições no MIS, Biblioteca Municipal de Campinas, Coletivo Mangueira e Pavão Cultural e fomos convidados a desenhar no carnaval de rua de Campinas no desfile do Bloco Nem Sangue Nem Areia na Vila Industrial.


Desenho de Célia Regina de Carvalho

 

Quando ocupamos esses lugares, seja dando uma oficina de desenho para um aluno de ensino médio e incentivando-o a observar mais atentamente seu colégio ou então registrando a beleza de um carnaval tradicional que preenche as ruas com esperança, me pergunto: que cidade queremos para nós?

 

O resultado ganha ainda mais sentido se for compartilhado e é esse o motivo de existir o movimento Urban Sketchers. Viver e experienciar a cidade não são atos individuais, mas sim coletivos. Quando desenhamos em grupo, compartilhamos ideias, visões e diferentes técnicas de representação daquilo que está sendo observado. Uma mesma cena pode ser reproduzida em aquarela, guache, nanquim, carvão, lápis de cor ou giz pastel e é isso que enriquece o grupo. E é justamente por isso que a participação nos encontros é aberta a qualquer um: desenhe a lápis ou caneta, em folha grande ou pequena, monocromático ou colorido, faça homem palitinho ou um retrato esboçado, mas desenhe! E ao final compartilhe…







Urban Sketchers

O movimento Urban Sketchers se iniciou em 2007 nos Estados Unidos pelo jornalista espanhol Gabriel Campanario e foi trazido por Eduardo Bajzek ao Brasil, onde encontrou um terreno fértil: hoje são 52 grupos espalhados pelas cinco regiões do país. O grupo de Campinas foi criado em 2018 pela arquiteta e ilustradora Fernanda Bonon e hoje são quatro administradores: André Lopes (arquiteto e urbanista), Luiza Bonon (designer e artista plástica) e Jonathan Melo (arquiteto e urbanista), além da própria fundadora.


  

André Lopes é arquiteto e urbanista e administrador do grupo Urban Sketchers Campinas.

 

 

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