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Convescote

  • Foto do escritor: URRO
    URRO
  • 19 de nov.
  • 6 min de leitura

Por Danilo Leite Fernandes


Morto em uma noite do início de novembro, ele fez muitos shows na cidade ao longo de sua carreira. O último foi no dia 18 de abril de 2024, no Galpão do Sesc-Campinas. Um dia antes, gravei uma entrevista por telefone com Lô Borges. Foi muito simpático e falante. Contou, entre outras coisas, que vinha compondo muito desde antes pandemia e já tinha discos prontos para lançar em 2026 e 2027.


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Danilo Leite Fernandes - Lô Borges, fale um pouco do show "Não Me Espere na Estação".


Lô Borges - O "Não Me Espere Na Estação" é o meu quinto álbum de inéditas em cinco anos consecutivos. A base do show mesmo são as canções que o público quer ouvir e reconhece. Toco muita canção que compus para o álbum  “Clube da Esquina”, que tive a honra de ser coautor junto com o Milton Nascimento. Toco canções que são dos anos 70, dos anos 80, passando por todos os meus discos e parcerias da minha vida.

Sempre quando lanço um disco, toco umas três ou quatro do disco novo. Mas é um show que não é de músicas desconhecidas. É um show de músicas conhecidas, porque gosto de tocar as músicas que compus; me orgulho muito dessas canções que fiz no começo e no decorrer da carreira. Gosto também mostrar as mais novidades que estão acontecendo na minha carreira de compositor.

 

Danilo Leite Fernandes - Por coincidência, a Roberta Campos está fazendo um show aqui onde você vai fazer na semana que vem, e está cantando músicas do “Clube da Esquina”. Conversei com ela na semana passada, e ela falou: "sou mineira, sou totalmente influenciada por Lô Borges, Milton Nascimento e Beto Guedes”.


Lô Borges - Ah, legal; é muito bom saber disso, fico feliz.

 

Danilo Leite Fernandes - Recentemente também a cantora campineira Margareth Reali fez show em comemoração aos 50 anos dos discos “Milagres dos Peixes”. Na banda tinha gente que tocou com o Milton, enfim, sinto que o “Clube da Esquina” está sempre muito vivo, sempre sendo cantado e as canções regravadas por um monte de gente.


Lô Borges – “O Clube da Esquina” tem uma trajetória muito peculiar. Teve hora de começar em 1971 e que a gente compôs as músicas, e gravamos no Estúdio da Odeon, no Rio; Eu recém-chegado ao Rio, tinha 19 anos naquela época, e ele começou por aí. O Milton me contou para dividir o álbum com ele; topei, mas assim, tive que pedir autorização da minha mãe. Estávamos no período de plena ditadura militar. e minha mãe não estava querendo deixar eu me mudar para o Rio de Janeiro. Na hora que ela escutou as músicas do “Clube da Esquina”, ela ficou entusiasmada e disse: "pô, meu filho, você toca muito bem, você canta bem". O “Clube da Esquina” começou aí para mim, mas não tem prazo de validade para terminar. Passaram 10 anos, 20 anos, 30 anos, 40 anos, agora 52 anos.

 

Danilo Leite Fernandes - Os discos estão fazendo todos 50 anos agora. Vocês gravaram nos anos 70.


Lô Borges - Vários, inclusive a discografia brasileira é muito rica nesse período, importantíssimos, inclusive de Caetano Veloso e Luiz Melodia.

 

Danilo Leite Fernandes - Em 74 tem “Elis Tom”, que teve até documentário.


Lô Borges – Maravilhoso; me orgulho muito de ser um compositor brasileiro, porque a música do Brasil é nossa grande matéria-prima, fundamental na vida das pessoas. O “Clube da Esquina”, por exemplo, do qual faço parte repercute no mundo inteiro, não só no Brasil. É muito interessante a trajetória do “Clube da Esquina”. Costumo até brincar, eu falo assim: "pô, quando o ‘Clube da Esquina’ fez 10 anos, me entrevistaram, quando ele fez 20, me entrevistaram, quando ele fez 30, a mesma coisa. Quando ele fez 40, também. Quando ele fez 50, eu acho que daqui a 10 anos vou estar falando dos 60 anos do ‘Clube da Esquina’”.

 

Danilo Leite Fernandes - E com essa turnê do Milton, de encerramento de shows e tal, que foi super bombada, acho que vocês foram criando e as coisas foram acontecendo, então está sempre a evidência.


Lô Borges - Na verdade, independente do show do Milton, nós nunca paramos de trabalhar.

 

Danilo Leite Fernandes - Vocês nunca pararam, exatamente, eu estou vendo aqui...


Lô Borges - O “Clube da Esquina” é aceito em todas as suas vertentes. O Milton sempre foi a estrela que brilhou mais, o cara mais importante, o pai de todos nós, o grande mestre. Mas não foi só ele. Na verdade, cada um desenvolveu sua carreira com criatividade, com ímpeto, com interesse do público, interesse dos lugares que a gente vai. Começamos todos juntos e hoje estamos quase que meio separados.

 

Danilo Leite Fernandes – E de vez em quando junta um aqui e outro ali. No ano passado, por exemplo, a Orquestra Sinfônica de Campinas fez um concerto com o Wagner Tiso, Toninho Horta e Beto Guedes.


Lô Borges - Eu soube desse concerto.

 

Danilo Leite Fernandes - Você gravou um álbum ano passado, 50 anos de música ao vivo na Sala Minas Gerais.


Lô Borges - A Sala de Minas Gerais foi construída sob medida para fazer um trabalho de música erudita e clássica. Tive a honra de ser o primeiro artista convidado pela Filarmônica de Minas Gerais, uma das maiores orquestras da América do Sul.

 

Danilo Leite Fernandes - É a melhor orquestra do Brasil e da América do Sul.


Lô Borges - Eu comemorava meus 50 anos de música. A minha carreira tem muita passagem boa, bem legais. Tenho o maior carinho pelo que construí. Sou um trabalhador impensável da composição. Sou um militante da composição. Nos últimos cinco anos lancei cinco trabalhos inéditos. E esse ano vou lançar o sexto de inéditos, o sexto ano consecutivo. E para ser sincero, tenho disco pronto para 2026 e 2027.

 

Danilo Leite Fernandes - Caramba, que legal. Então você realmente continuou compondo, continuou produzindo, continua produzindo.


Lô Borges - É a coisa que me dá mais prazer. Tenho enorme prazer em fazer show. Em lidar com o público, estar próximo do meu público, do público em geral. Acho isso muito fascinante. Mas a minha missão na vida como artista, como músico, é ser compositor; é a coisa que mais me seduz. Sou um aficionado da composição; não vivo sem compor.

 

Danilo Leite Fernandes - E você tem uma rotina para compor ou é quando vem a inspiração; você pega violão, você compõe no violão, piano?


Lô Borges - Tenho um pouco de disciplina. Compus tanto no período antes da pandemia, que começou a sequência de seis discos inéditos, que vai para o sétimo, que vai para o oitavo. Comecei a sequência em 2019, com um disco chamado "Rio da Lua", com letras do Nelson Ângelo, que é do “Clube da Esquina” também. Tem vários clássicos do “Clube Da Esquina” do Nelson Ângelo.


Danilo Leite Fernandes - Depois veio o “Dínamo” de 2020, aí 2021 "Muito Além do Fim" - aí já deve ter sido coisas que você compôs durante a pandemia.


Lô Borges - Aí teve em 2022 o "Chama Viva", aí teve em 2023 o "Não Me Espere Na Estação", que para alegria nossa, do meu parceiro César Maurício e da minha banda, foi indicado ao Grammy. Fiquei muito honrado com isso.

 

Danilo Leite Fernandes - Então quer dizer, você está em plena atividade? Você nunca parou e nos últimos anos está produzindo muito?


Lô Borges - É a “minha”, diria aqui em Minas. A minha cachaça é fazer discos de inéditas; não é fazer discos de releituras. Tenho um fascínio pelo desconhecido e fazer música é me encontrar com algo que ainda não fiz, que passa a existir a partir do momento que me mobilizo. Então tem que ter uma certa disciplina. Sento e vou para o instrumento. Costumo falar que se você não for, se você não buscar... nada acontece. O Tom Jobim já falava: música tem 70% de transpiração e 30% de inspiração.

 

Danilo Leite Fernandes - Se você não buscar a inspiração não vem?


Lô Borges - Para ele, se você não buscar a inspiração não vem. Ela vem do céu, mas não cai do céu não, você tem que buscar.

 

Danilo Leite Fernandes - Exatamente, então você tem que estar disponível; Tem que estar pronto ali, todo dia.


Lô Borges - Sempre pronto. Tem que se colocar à disposição da composição; da criação. Foi um prazer falar com você, espero que as pessoas compareçam ao show. Ninguém sai frustrado, porque as vezes é aquela coisa: o cara só está lançando um disco novo, só vai tocar uma música nova. Não! 70% do show são músicas conhecidas, clássicas da minha carreira.


 

Danilo Leite Fernandes é jornalista graduado há 30 anos pela Escola de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Trabalhou na Folha de S. Paulo entre 1990 e 1992. Concursado desde 1998 na Prefeitura de Campinas, foi um dos fundadores da Rádio Educativa de Campinas FM, emissora na qual foi locutor, repórter, redator, produtor e coordenador de Jornalismo. Desde 2009, produz e apresenta o Fractal, programa semanal sobre eventos culturais. E desde 2018, produz e apresenta o Conexão Regional, programa diário que entrevista e toca gravações de músicos nascidos ou radicados em Campinas e região.

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