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Como assistir a filmes ruins - Parte II

  • Foto do escritor: URRO
    URRO
  • 3 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de jul. de 2020

Por Paulo de Tarso Coutinho Vianna de Sousa




Em principio ninguém quer fazer um filme ruim, mas basta olhar como o filme foi feito e produzido; a receita está pronta. Vamos apontar alguns elementos essenciais para a compreensão do que é um filme ruim.

Como filmes são feitos?


Um filme é o resultado do trabalho de centenas de pessoas, senão milhares. Em geral ele começa com alguém escrevendo uma história que considera interessante de ser contada. Pode ser um livro ou pode ser um roteiro. Há uma diferença fundamental entre os dois, o livro, não necessariamente está dirigido a imagem fílmica. O roteiro sim. O roteiro é um objeto descartável produzido apenas para gerar imagens (FLUSSER, 2010).


Filmes, hoje, são controlados por enormes corporações que possuem departamentos inteiros voltados a produzir sucessos e não fracassos, mas não raro isto acontece.


Esses fracassos algumas vezes se tornam um sucesso, o caso explicito disto é, de novo, Blade Runner, um filme de ficção que teve estouros de orçamento, fracassou na bilheteria, e, após alguns anos, se tornou a maior referência em filmes de ficção. Mas há fatores determinantes, e o orçamento, por vezes, é um. Filmes de baixo orçamento têm que ter altas doses de improviso e nem sempre funcionam, ou funcionam na direção errada. A utilização de um ator ou atriz que tipifica um gênero nem sempre funciona em outro. Por exemplo “A Múmia” com Tom Cruise, que é um típico ator de filmes de ação perdido neste filme. A crítica considerou a “falta de timig cômico” para o ator acostumado a filmes de ação e perigo.


É importante notar que, apesar de termos que levar tudo isto em conta, o filme afinal é classificado por sua bilheteria no principio e depois por sua audiência ao longo do tempo. E filmes ruins têm também um público aficionado que gosta de ver mal desempenho, erros crassos de roteiro, falhas nos efeitos, ou “defeitos b” especiais.

Gênero


Assistir uma coisa pensando que é outra pode ser uma tragédia para o espectador, o que pode fazer, do filme, um filme ruim. Uma vez fomos assistir “Pontes do Rio Madison” com Clint Eastwood e ‎Meryl Streep, com um grupo de amigos. Entretanto um deles apenas viu Clint Eastood, e achou que haveria ação, tiroteio e mortes. Era apenas uma história de amor! Ele passou o filme inteiro se remexendo na cadeira e bufando!!! Portanto a definição do gênero de filme tem uma importante direção para o que você acha, de antemão, o que vai encontrar no filme.


Tragédia é tudo que começa bem e termina mal, comédia, tudo que começa mal e termina bem. Romance é em geral um misto de comedia e tragédia misturado com romance. O filme ruim por sua vez não tem uma classificação, o que é uma pena, pois ele depende de dois fatores que são imponderáveis a principio, a crítica (sempre ela) e o público.


A crítica detestou “ Top Gun[1]” mas o público amou e foi um sucesso. A mesmíssima história foi refilmada anos depois como “Ameaça Invisível – Stealth”[2], com argumentos de Top Gun, disputa entre personagens, a relação amorosa, com apenas uma diferença notável para quem gosta de filmes ruins, a velocidade. Paul Virilio foi um arquiteto e filósofo da velocidade e da guerra, é muito interessante comparar os dois filmes sobre seu ponto de vista[3].


Suspensão da crença


Quando entramos em um cinema ou assistimos um filme na tv, existe um processo chamado “suspensão da crença[4]” ou da descrença. Nos filmes normais, se pudermos chamá-los assim, o efeito se aplica plenamente. Mas o efeito não funciona nos filmes ruins, pois, apesar de todos os esforços, você sabe que se trata de uma farsa. O resultado pode ser duplo: você desiste do filme (eu não faria isto!), ou você se diverte sabendo que se trata de um trabalho que busca a suspensão mas não consegue e por isto pode se tornar divermento.


Continua... o sofrimento não acaba rápido!!!!

(1) Filme Americano Direção: Tony Scott(irmão de Ridley Scott). Roteiro: Jim Cash e Jack Epps Jr. Elenco: Tom Cruise, Kelly McGillis, Val Kilmer, Anthony Edwards e Tom Skerritt.


(2) Filme americano de 2005 • cor • 121 min Direção: Rob Cohen. Roteiro: W. D. Richter e Rob Cohen. Elenco: Josh Lucas, Jessica Biel, Jamie Foxx e Sam Shepard


(3) Ver SOUZA P.T.V “DROMOLOGIA O LUGAR DO IMEDIATO NA COMUNICAÇÃO” em https://doity.com.br/anais/jig2018/trabalho/82189


(4) Suspensão de descrença, suspensão de descrédito, da incredulidade ou ainda "suspensão voluntária da descrença" refere-se à vontade de um leitor ou espectador de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias. É a suspensão do julgamento em troca da premissa de entretenimento. A ideia encontra-se na introdução do livro Uma história verdadeira, do poeta satírico Luciano de Samósata; após mencionar vários outros autores que contaram mentiras, ele completa dizendo que também é um mentiroso, e pede humildemente ao leitor a sua credulidade. A expressão foi registada em 1817 pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge.



Paulo de Tarso é arquiteto, artista plástico, artista gráfico e doutorando em artes visuais.


 
 
 

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