Palavrório
- URRO
- 26 de mar.
- 2 min de leitura
O Boi Falô
Por Thiago de Souza
O distrito de Barão Geraldo é a residência de um fenômeno sobrenatural que intriga gerações por décadas.
Tudo ocorreu na antiga Fazenda Santa Genebra.
Dizem que em uma Sexta-feira Santa, o Barão determinou que Toninho, ao que consta, homem escravizado, fosse buscar alguns Bois que descansavam em uma localidade chamada Capão do boi.
Toninho se dirigiu ao local e ao se aproximar de um dos animais, foi surpreendido com algo inexplicável.

Ilustração de Matheus Hass
O Boi disse a Toninho:
“Hoje não é dia de trabalhar!
Hoje é dia de nosso Senhor Jesus Cristo.
Atônito, Toninho retornou à fazenda e reportou o fato a um capataz do Barão.
Incrédulo, o mesmo voltou ao local e ao abordar o boi indicado por Toninho, recebeu a mesma resposta.
Tamanho o impacto da mensagem do além, que o capataz, homem sem fé, virou um rezador. Toninho foi promovido a serviçal doméstico, ainda escravizado. Existe muita polêmica em torno desta aparição.
Desde as versões sobre as reais funções de Toninho, motivações políticas para a promoção deste fenômeno sobrenatural e conflitos com a diocese na medida em que a incorporação do Boi falante motivou a organização de uma festa popular religiosa.
Fato é: Toninho, que na verdade se chama Antônio Africano, foi enterrado ao lado de seu patrão, algo bastante inusitado dado ao tratamento a que homens escravizados tinham na época.
Também merece ser dito que “Toninho Escravo” é um dos túmulos considerados milagreiros no cemitério da saudade em Campinas.
Sua campa é coberta de placas de agradecimento de fieis que creditam ao ex-escravizado milagres.
Só não peça para Toninho Escravo lhe ajudar na Sexta Feira Santa, porque como disse o Boi incorporado:
“Hoje não é dia de trabalhar!
Hoje é dia de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Thiago de Souza é roteirista, compositor e idealizador do projeto "O que te assombra?"
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