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Editatorial

Atualizado: 10 de mar.

O jogo: amar e a linha



Esse texto final da URRO! foi pensando originalmente para ser escrito a oito mãos, pelos quatro escrevinhadores e editores, que se propõem a abrir mais um espaço de tempo nessa loucura de vida para organizar a edição. Infelizmente, o tempo ganhou. Perdemos, essa corrida maluca. Tentamos herculeamente resistir, mas a inteligência artificial apoderou-se das 24 horas do relógio, e como um tirano já dita o destino e impõe suas regras. Algumas razoáveis, outras imaginariamente terríveis.


Como a resistência é a base desse projeto, buscamos no clássico e emblemático “O Jogo da Amarelinha”, do grande escritor argentino Julio Cortázar, inspiração para o Editatorial da última edição do ano de 2023.


Publicado originalmente em 1963 sob o título Rayuela, o livro desafia o leitor a acompanhar a trama de duas formas: a primeira, de forma linear, dispensando a leitura dos capítulos prescindíveis. A segunda, propondo uma nova narrativa, alterando a ordem dos capítulos.


Contar e recontar histórias. Ter um olhar crítico sobre os fatos reais e irreais que assolam o mundo. Apresentar uma nova ótica de pensamento. Valorizar a cultura e seus significados em todos os seus aspectos está no DNA da URRO!.


Assim, selecionamos e reconstruímos um novo texto com base nas palavras que formaram essa edição. Cada parágrafo reproduz a sala de exposição onde está a #16 edição da URRO!. Tire suas conclusões a partir da ordem proposta, ou, como nos ensina Julio Cortázar, siga sua própria ordem de leitura, sem curiosidade e medo de ousar.

*  


Conhecer o quanto o poder público precisa ser ampliado, discutido e inclusivo. O quanto falta de Estado em alguns lugares enquanto em outros ele favorece privilegiados. E ao mesmo tempo ele se utiliza de mecanismos para não estar e “terceirizar” de inúmeras formas o que é obrigação dele fazer.


Se a história, a vida de um homem é resultado de suas forças em luta, Ricardo é um ser humano feito de versos, de prosa e, principalmente, de coragem. Afinal, dedicar sua existência à cultura e às artes é sempre um desafio


Gritarei. Enquanto me restem algumas polegadas de terra. Enquanto me reste uma oliveira, uma laranjeira, um poço…  Um bosquezinho de cactos. Enquanto me restem lembranças; uma pequena biblioteca. A foto de um antepassado…  Um muro.


Vejam, por exemplo, o caso das ervilhas enlatadas. Como poderia o homem moderno privar-se da degustação de tão saborosa iguaria? É possível imaginar um mundo onde não encontrássemos, em qualquer supermercado, deliciosas ervilhas enlatadas?


O difícil é encontrar de fato o seu lugar e restabelecer a comunicação consigo mesmo. O todo está em certa floculação das coisas, no agrupamento de toda essa pedraria mental em torno de um ponto que falta justamente encontrar.


Ao inventarmos uma fábrica de inutilidades e informações digitais descartáveis, em escala e velocidade colossais, roubamos a capacidade de memória de nossas crianças, jovens, adultos e idosos.


Poemas enfrentam dilemas e dialogam com as imagens e as palavras de outras poetas.  Poemas retratam as dificuldades do silenciamento histórico a que mulheres foram submetidas, abrindo, assim, espaço para ouvir a si e os seus cadernos há muito tempo guardados e encontrando na arte poética seus centros de força e criação.


Editores, diagramadores e fotógrafos mais resilientes, no entanto, encontraram uma saída honrosa para o calvário do fechamento: corriam para um buteco (na verdade, uma barraca de Eternit que se equilibrava em quatro vigas de madeira) que ficava do lado de fora, logo à direita da saída do estacionamento, nos fundos do jornal.


Os lançamentos de 1973 trazem discos que vão desde o álbum de estreia de Bruce Springsteen ao clássico do Pink Floyd, Dark Side of The Moon, considerado um dos discos mais importantes da história do rock. Repleto de clássicos do começou ao fim, o disco é tão bom que sua capa com um prisma incomoda conservadores de plantão até hoje, raivosos com as cores do arco íris.


Todos eles têm em comum o desvalor do sistema e o incentivo às correntes do ódio, do nacionalismo retrógado, do autoritarismo e da intensa propaganda baseada em ilusórias e delirantes frases de efeito modulas e embaladas pelas fake news.


Ou, de como vivemos em admirável mundo conduzido pela alta tecnologia, mas perdemos (ou nunca tivemos) a capacidade de nos sensibilizar com histórias de despossuídos que são tão próximas às nossas; afinal, são seres humanos, lutando pelo direito de viver e sonhar.


Decidiu ir para casa. Que casa? Não havia para onde retornar. Não era mais possível deixar de andar em círculos. Em que momento aquela brincadeira, aquela bobagem, se tornara séria?


Concentrado, não ouviu o telefone tocar novamente. No segundo toque, correu e atendeu a chamada. Do outro lado da linha uma voz robotizada falou: “quer alterar seu plano”?

 

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