Editatorial
- URRO
- 26 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Sinais de fumaça já não existem mais

Estivemos todos em meio à fumaça densa e espessa. O ar ao entrar por nossas narinas e ao chegar em nossos pulmões fere, faz virar lixa o que antes eram paredes lisas e fluidas. Tosse. Tosse. Tosse. Tentamos expulsar aquela coisa estranha de nossas entranhas. E nada. Pigarro constante a nos lembrar que a insanidade está vencendo. Olha pro céu, meu amor… veja como ele está cinza!
Estamos vivendo dentro de um cinzeiro. A resposta, meu amigo, não está soprando no ar. O ar se tornou denso demais e carrega perguntas ainda sem respostas: “Até quando será possível sobreviver?” “Até quando a indústria da guerra irá governar nossas vidas?” “Falta quanto tempo pra próxima extinção em massa chegar?”.
O vento, meu amigo, sopra ares da carnificina na Palestina. Sopra a seca do rio Madeira, e de todo o Pantanal. Sopra as enchentes no Sul do Brasil. Sopra em todo o globo o caos climático. Lá de cima, os topetudos engravatados sorvem goles de Uísque e deixam pender sobre nossas cabeças, aqui no cinzeiro mundano, as cinzas de seus charutos importados da ilha embargada, como convém o clichê.
O escracho político está dado. Dentro do cinzeiro, nossas vidas seguem o ciclo previsível da humanidade - sempre em guerra. A fumaça existe para todos. Aniquila horizontes. Faz vultos humanos em oposição, em desumanidade. Bandeiras flamejantes em uma névoa, onde ninguém enxerga ou escuta nada, viram armas.
A cor vermelha escorre em bicas do cinzeiro. Sangram todas as formas de vida do planeta, tragadas por aqueles que se colocam acima de tudo. Só que a vida vai continuar. De outra forma. Antes que não existam mais úteros nem terra fértil, urramos: Poetas do mundo, dispersemo-nos! Tosse. Tosse. Escarra. Pigarro. Sem mais sinais de fumaça.
É preciso em cada canto matar os clichês, implodir o cinzeiro, cravar estilhaços daqui, de diferentes direções, na jugular dos topetudos. Cairmos em terra nova, germinar outros cânticos - os de liberdade e humildade - que não somos nada e somos todos ao mesmo tempo. Não haverá mais bandeiras, nem vultos. Somente humanidade em comunhão com todas as formas de vida.
Pela liberdade de imaginar e criar um mundo fora do cinzeiro, oferecemos-lhe esta URRO!
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