top of page

Tensão sobre o Tom

  • Foto do escritor: URRO
    URRO
  • 16 de jun. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de jul. de 2022

Transformer Ziggy Exile Transa e Harvest: Acabou Chorare

Por Maurício Simionato


A ideia inicial deste artigo para a URRO! era escrever sobre os 50 anos do LP Transformer, de Lou Reed, completados em 2022. Depois, pensei em fazer de outro disco clássico e também 'cinquentão': Transa, de Caetano Veloso. Depois pensei no disco do Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges, e no Expresso 2222, do Gilberto Gil. Foi então que não tinha mais jeito. As opções de discos incríveis vieram à tona como uma avalanche após uma pesquisa.


Ziggy Stardust: o personagem extraterrestre inventado por David Bowie


Não é possível, mas tem o Exile On Main Street, dos Rolling Stones. Perdi o foco. Mas tem o The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, do David Bowie. Ah não! Tem o Harvest, do Neil Young. Não vou conseguir decidir. Mas, e se eu escrevesse sobre o Acabou Chorare, dos Novos Baianos? Esquece, pensei. Tudo já foi escrito sobre estes discos sensacionais nas últimas cinco décadas.


Espera. Tem também o Tim Maia, do Tim Maia, o Thick as a Brick, do Jethro Tull, o Obscured by Clouds, do Pink Floyd, Eat a Peach, do The Allman Brothers Band, o Talking Book, do Stevie Wonder, e tem o…. Chega. Minhas chances de escolher apenas um disco que completa meio século de lançamento em 2022 estavam encerradas com tantas opções fantásticas.


Foi então que considerei a opção de pensar no que teria motivado estes discos. Propus três questionamentos básicos: O que há em comum entre eles? O que estes clássicos da música popular teriam a dizer sobre o ano de 1972? O que estas obras poderiam nos dizer neste ano de 2022? As perguntas são simples, mas escondem complexidade. Talvez, ninguém consiga as responder por inteiro.


O que pode haver em comum, por exemplo, entre Transa, Transformer, Exile e Ziggy Stardust? Arrisco a dizer: a sexualidade. A sexualidade permeia não só estes, mas todos os citados acima, ora chegando pelas mãos de algo próximo do amor, ora chegando por meio das descobertas e explorações do corpo e do comportamento. Mas isso também já foi dito.


A década de 1970 tinha este componente de exploração sexual. Mas estas obras trazem, com a sexualidade, outros questionamentos, tal como o rompimento de barreiras de gênero. Isso fica claro quando observamos o personagem Ziggy Stardust, criado por Bowie. Ziggy era assexuado, altamente sexual, era binário e não-binário. Ao mesmo tempo, tinha ali o sexo à flor da pele.

E não era “só” a sexualidade ali. Tinha as drogas e o rock, completando o velho lema: sexo, drogas e rock'n'roll. Mas seria fácil resumir tudo a isso a estes três aspectos de rebeldia.


Havia a arte popular sendo realizada em alto nível. Havia o experimentalismo. Havia a ousadia. Havia a caretice sendo combatida. Havia a crítica social. Havia o sarcasmo sobre uma sociedade engessada nos velhos costumes. Havia um sonho de tempos melhores pela frente. Isso responde automaticamente a segunda pergunta. Tudo isso pode nos dizer algo sobre o que significou o ano de 1972 do ponto de vista da música popular.


Mas restou a pergunta fundamental... O que este ano de 1972 poderia nos ensinar, hoje, neste ano de 2022? Um ano de 2022 em que nos deparamos, cada vez mais, com a caretice, o retrógrado, o lugar comum e a falta de coragem de ser vanguarda e de experimentar com a arte em detrimento dos 15 segundos de fama nos tik toks da vida?


A resposta para esta pergunta está no que cada um é capaz de sentir quanto tiver condições de ouvir, com atenção, pelo menos dois ou três dos discos citados acima.


Maurício Simionato é jornalista e poeta




Comments


bottom of page