Editatorial
- URRO
- 15 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de jun. de 2022
Urre! Grite! Cante! Cuspa na cara! Agrida!

São tempos difíceis. A banda anda tocando torto, atravessado. O general sumiu de cena pra tentar mais uma quartelada desaforada, pasmem, e o público, sempre cafona, bate palmas pro fim do seu próprio carnaval. É Seu Zé, acabaram com a nossa folia mas isso não pode ser motivo pra choro. Lembre-se de Paulo Vanzolini, porra: levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima e cerre os punhos. Tamos juntos! A vida é dura mas a recompensa é grande. Tocamos o bonde: sempre em frente, de cabeça erguida e espírito em chamas. Se eles tem as armas e a grana, os números e as máquinas, nós por aqui temos razão e tem horas em que só isso nos basta. Seguimos vivos, contrariando o projeto necrófilo dessa gente estúpida e isso já é motivo pra se tomar de novo o fronte e seguir em frente. Quando a dignidade é privilégio só de quem pode pagar, a revolta e a violência são direitos de que cansou de chorar. Por isso não se avexe e vem com a gente:
URRE!
GRITE!
CANTE!
CUSPA NA CARA!
AGRIDA!
E de alguma forma faça essa gente acordar, antes que seja tarde, afinal se eles quiserem nos carregar até o confins do inferno na terra que tenham ao menos muito trabalho, torrem muita prata, gastem toda a saúde, a sanidade, e, se tivermos sorte, gastem as suas lágrimas secas no fim da batalha. É fato, bicho: se alguém tem que chorar, que seja a mãe do inimigo; nunca a nossa!
Fique atento, não caia no jogo bobo da culpa. Resistir é tramar, andar perdido nas sombras, colocar bombas e poemas nas estruturas dessa vida pela metade. O mundo pode mudar, basta a gente se organizar. Os homens gordos e obscenos não devem continuar exercendo seus podres poderes, os porcos não podem mais nos encarcerar em nome das ordem e por mais que eles insistam no avesso dessa ideia, nós não estamos fadados a morrer. Acorde!
Estamos firmes e fortes. Apoiamos o breque, o murro, a greve e todo esse horizonte de sonhos e justiça que carregamos no fundo do peito e no ardor dos sorrisos. Galo bom mesmo, nego, é galo de briga, daqueles que riscam a unha no terreiro, dominam a rinha e devoram o couro do inimigo pelo prazer da batalha.
A edição 03 da Revista URRO! vem quente, como uma aposta cega na utopia: única forma possível dos sonhadores seguirem adiante nesse mundo destroçado e injusto.
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